30 de setembro de 2005

O Diário de um Cão

1 semana: Hoje faz uma semana que nasci! Que alegria ter chegado a esse mundo!!!
1 mês: Minha mãe cuida muito bem de mim. É uma mãe exemplar.
2 meses: Hoje me separaram de mamãe. Ela estava muito inquieta e com seus olhos me disse adeus como esperando que nova "família humana" cuidade bem de mim, como ela havia feito.
4 meses: Cresci muito rápido, tudo chama minha atenção. Há várias crianças na casa que são como meus "irmãozinhos". Somo muito levados, eles me joram uma bola e eu os mordo brincando c/ eles.
5 meses: Hoje me castigaram, minha dona se zangou porque fiz "pipi" dentro de casa... mas nunca me disseram onde eu deveria faze. E como eu durmo na sala eu não aguentei!!!6 meses: Sou um cão feliz! Tenho o calor de um lar, sinto-me seguro e protegido... Creio que minha família humana me ama muito... Quando estão comendo me convidam; o quintal é somente p/ mim e estou sempre vavocando, como os meus antepassados lobos, quando escondiam a comida. Nunca me educam, seguramente porque nada faço de errado.
12 meses: Hoje completei um ano. Sou um cão adulto e meus donos dizem que cresci mais do que eles esperavam. Que orgulhosos devem estar de mim!!!
13 meses: Como me senti mal hoje ... Meu "irmãozinho" tirou de mim a bola que eu estava brincando. Como nunca pego seus brinquedos fui atrás dele e o mordi. Mas como meus dentes estão muito fortes, machuquei-o sem querer. Depois do susto me prenderam e quase não posso me mover para tomar um pouco de sol. Dizem que sou ingrato e que vão me deixar em observação... não entendo nada do que está acontecendo.
15 meses: Tudo mudou... vivo preso no quintal... na corrente... me sinto muito só... minha família já não me quer. Às vezes esquecem que tenho fome e sede e quando chove não tenho teto que me cubra.
16 meses: Hoje me tiraram da corrente. Pensei que tinham me perdoado... Fiquei tão contente que dava saltos de alegria e meu rabo não parava de abanar... Parece que vou passear com eles. Subimos no carro e andamos um grande trecho quando de repente pararam. Abriram a porta e eu desci correndo, feliz, crendo que era dia de passeio no campo. Não entendo porque fecharam a porta e se foram... "Esperem"!!! Lati... "esqueceram de mim". Corri atrás do carro com todas minhas forças... minha angústia aumentou ao perceber que o carro se afastava e eles não paravam. Tinham me abandonado...
17 meses: Procurei em vão achar o caminho de casa. Sento-me no caminho. Estou perdido e algumas pessoas de bom coração me olham com tristeza e me dão algo de comer... Eu agradeço com um olhar do fundo de minha alma... quisera que me adotassem, eu seria leal como ninguém. Porém, eles apenas dizem "pobre cãozinho, deve estar perdido".
18 meses: Outro dia passei por uma escola e vi muitas crianças e jovens. Cheguei perto e um grupo deles, dando risadas, atirou-me uma chuva de pedras p/ ver quem tinha melhor pontaria... uma dessas pedras atingiu um dos meus olhos e desde então não enxergo com ele.
19 meses: Parece mentira, mas quando eu estava mais bonito, as pessoas se compadeciam mais de mim... agora que estou muito fraco, com um aspecto bem mudado... perdi meu olho, as pessoas me tratam a pontapés quando pretendo deitar-me na sombra...
20 meses: Quase não posso me mover. Hoje, ao atravessar a rua por onde passam os carros, um deles me atropelou. Pelo que sei, estava num lugar seguro chamado "sarjeta", mas nunca vou me esquecer do olhar de satisfação do motorista. Oxalá tivesse me matado!!! Porém, só me deslocou a bacia. A dor é terrível. Minhas patas traseiras não me respondem e com dificuldade me arrastei até uma moita de ervas fora da estrada...
Já faz 10 dias que estou debaixo do sol, chuva e frio, sem comer. Não posso me mover, a dor é insuportável. Sintom-me muito mal. Estou num lugar úmido e parece que meu pelo está caindo. Algumas pessoas passam e não me vêem; outras dizem para não aproximar de mim. Já estou quase inconsciente. Quando de repente, uma força estranha me fez abrir os olhos.A doçura de sua voz me fez reagir. "Pobre cãozinho, veja como te deixaram"... junto a ela estava um senhor de roupa branca que começou a tocar-me e disse: "Sinto muito senhora, mas esse cão já não tem remédio, o melhor é que deixe de sofrer". A gentil dona consentiu, com os olhos cheios de lágrimas. Como pude, mexi o rabo e olhei para ela agradecendo por me ajudar a descansar... Senti somente a picada da injeção e dormi para sempre, pensando em porque nasci, se ninguém me queria... Melhor seria se tivessem castrado minha mãe!!!

Texto extraído de um panfleto da Cia. do Bicho. Foi uma época em ajudamos na campanha de castração de animais de rua. Hoje, cuidamos de 19 cães q foram abandonados. No total eram mais de 30. Uns morreram e outros fugiram. Nossos cães são castrados e vacinados anualmente.

Este é o Francisco. Foi abandonado numa caixa de papelão no portão da minha casa. Ele tem cinco meses e está conosco há um mês. Ele já faz parte de nossas vidas. Não é fofo??!! Se tivéssemos condições abrigaríamos todos os cães abandonados da minha cidade... mas um pouco já fizemos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi Marcia.

Estava procurando outro dia na net, receitas de mantas para bebes e encontrei seu blog. Fiquei encantada com tudo. Com seus trabalhos muito bem feitos, com muito capricho, e com o que vc escreve, a maneira como se expressa. Me identifico com muitas coisas que li em posts anteriores.
Enfim, sobre esse texto do cãozinho, se a gente pensar, é ainda pior ai no Brasil. Moro nos EUA há quase um ano, e aqui os animais são muito valorizados, existem abrigos e as pessoas se importam, não maltratam. Eu e meu marido, temos 4 gatos e 2 cachorros, todos eles adotamos de abrigo (ele já tinha metade quando eu cheguei), e se eu pudesse, teria muitos mais.
Parabéns pelo blog, e todo dia eu dou uma "passadinha" aqui, e como não estou trabalhando ainda, fico muito sozinha, e para me distrair, leio bastante, me dedico a aprender ingles, vejo muitos filmes e resolvi voltar a fazer trico, coisa que sempre gostei, mas já tinha um tempinho que não fazia, e hoje é uma terapia para mim.
Um beijo, e desculpa o comentário imenso.

Márcia disse...

Oi Rosangela, eu é que fico feliz pela sua visita e ainda mais por vc ter gostado do blog. Aqui, no Mitricot eu misturava todos os assuntos, mas resolvi separar, deixar o Mitricot apenas pra tricot e algumas receitinhas simples bolo e tortas que faço de vez em quando. Os outros assuntos deixei para o Mikakau. Um beijo e tricota sim porque faz bem para alma, :o))

Anônimo disse...

Oi.Senti um frio na espinha ao ler esta sua história.Adoro cães e tenho dois que foram "adotados" da rua.Eles são a alegria de nossa casa.Legal v. enviar estas mensagens.Quem sabe mais gente não entre nesta luta?Um abraço.Vilma